Parceria com escola de estética dá oportunidade a ex-acolhidas

Mulheres estão fazendo curso profissionalizante com direito a diploma do MEC

terça, 22 de abril de 2014 às 00h00

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Mariana Lima 

Após o período na comunidade acolhedora, voltar ao cotidiano é um desafio para alguns dependentes químicos. Um fator que pesa muito neste momento é a desconfiança da sociedade que, apesar de apoiar a mudança do comportamento, ainda enfrenta preconceitos no momento da reinserção social. Uma escola de estética em Maceió está tomando o caminho oposto e celebrando os resultados. 

Duas mulheres que passaram pelas comunidades do Acolhe Alagoas frequentam há dois meses as aulas do curso profissionalizante de Estética Facial e Corporal na Escola Técnica de Estética de Alagoas, no bairro do Farol, em Maceió. O curso de 18 meses, com diploma reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC), é oferecido gratuitamente graças a uma parceria entre a escola e a Diretoria de Reinserção da Secretaria de Estado de Promoção da Paz (Sepaz). 

“A escola já está presente no mercado há um bom tempo, é uma instituição de qualidade reconhecida e se mostrou bastante receptiva quando procuramos para a parceria, que seriam cursos profissionalizantes na área de Estética para jovens e mulheres após o acolhimento. Procurávamos os cursos mais curtos, de três meses, e ficamos impressionadas com a disposição deles para as cinco vagas no curso completo”, explica Suely Xisto, diretora de Reinserção Social da Sepaz. 

Após análise do perfil e verificação de disponibilidade das candidatas, Lidi e Tati foram encaminhadas para o curso. Abraçaram a oportunidade, estão se dedicando e já chamam atenção na evolução das aulas. 

“A Tati tem uma mão muito boa para estética corporal, a professora dela nos disse isso e tem muito interesse em aprender a profissão. A Lidi é mais tímida, mas já percebemos uma mudança no comportamento dela, de falar um pouco mais, ter mais autoestima. A estética também se valorizar, cuidar de si mesmo e se sentir bonita”, conta a diretora da Escola Técnica de Estética, Amparo Lima. 

Amparo não esconde o orgulho das duas alunas. “Elas vieram primeiro e estão indo muito bem. Tenho certeza que serão boas profissionais porque se dedicam às aulas e, como têm essa bagagem, sabem o valor da própria vida, de aproveitar as chances, se dedicar. Não há diferença entre elas e as outras alunas da escola, cada uma tem sua própria história, sentimentos e bagagem. É isso o que eu percebo nelas, a força de vontade”. 

A retomada

Lidi, de 26 anos, não gosta de falar muito do passado, foca no “daqui para frente”. Trabalhar com estética foi uma novidade apresentada durante o acompanhamento pós-saída no Centro de Acolhimento. Já Tati, 36, é mais falante e não esconde a empolgação. 

“Quando a psicóloga falou do curso no Centro de Acolhimento, achei que seria voltado para unha, cabelo, maquiagem, só que nas aulas vi que estética tem muito a ver com saúde, envolvendo corpo, face e pele. E isso casou com a formação de técnica em enfermagem”, conta Tati. 

“A adicção me afastou dessa profissão, me afastou também da faculdade de Serviço Social no terceiro período. Quando saí da comunidade, em abril do ano passado, não me sentia segura o suficiente para voltar à área de Enfermagem, onde eu tinha uma carreira já. Mas não parei, continuei indo ao Centro de Acolhimento para o acompanhamento com as psicólogas, frequentava o Caps, trabalhei na minha recuperação”, completa Tati. 

Agora ela aproveita a oportunidade de conseguir mais um diploma, justamente em uma área em expansão no mercado brasileiro. “Eu não ia poder pagar um curso como esse. Além disso, a atenção das professoras, das psicólogas do Centro de Acolhimento te ajudam a ir adiante, persistindo a cada dia”. 

Dar e aproveitar oportunidades

Lidi e Tati são personagens reais de uma história de sucesso não só pela recuperação da dependência química, mas pela oportunidade da reinserção, algo que ainda enfrenta muita resistência de empresários e instituições de ensino. Amparo Lima passa um recado aos futuros candidatos. 

“Fui professora de crianças por muito tempo e acredito no afeto e na oportunidade para fazer a diferença. Quando fui procurada pela Sepaz sobre oferta das vagas, aceitei na hora, porque é estendendo a mão que conseguimos mudar a vida de alguém e a nossa. Aqui nós aprendemos com as meninas da mesma forma com que elas aprendem com a gente”. 

Tati também incentiva. “É importante que os empresários acreditem na reinserção, vejam que ela dá certo e que tem muita gente querendo ajuda e querendo mostrar sua capacidade”.


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