REDE ACOLHE
Psicólogo da Seprev alerta para os riscos do alcoolismo, que tem crescido na pandemia
Em 2021, a Rede Acolhe contabilizou 3.892 acolhimentos motivados pelo consumo abusivo de bebida alcoólica
Everton Dimoni
segunda, 17 de janeiro de 2022 às 10h10
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Não é novidade que a pandemia de Covid-19, ainda em curso, tem causado impactos de várias ordens à vida das pessoas. No entanto, para além do número de infecções e casos fatais da doença, existem desdobramentos que muitas vezes passam sem o conhecimento amplo da sociedade. Um desses efeitos é a intensificação do abuso no consumo de álcool durante o isolamento social, observado não só em Alagoas ou no Brasil, mas em todo o mundo.
Um estudo realizado pela Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) com 12 mil participantes mostrou que mais de 35% dos entrevistados com idades entre 30 e 39 anos passaram a consumir doses excessivas de bebida alcoólica em intervalos mais curtos de tempo depois da pandemia. O resultado mostra que o momento ainda requer atenção especial e que todo cuidado é pouco.
Segundo o psicólogo especialista em dependência química da Secretaria de Estado de Prevenção à Violência (Seprev), Júnior Amaranto, a necessidade do isolamento social trouxe um aumento expressivo nos casos de ansiedade, estresse e depressão, e fez com que as pessoas potencializassem problemas pessoais, de relacionamento e mesmo a preocupação com a doença. Somado a isto, ele destaca as dificuldades profissionais e financeiras causadas pelo desemprego decorrente da crise sanitária como estopins para o aumento da procura pela bebida.
“Tivemos muitos relatos de pessoas que perderam o emprego e passaram a consumir mais álcool por causa da situação em que estavam vivendo. Além disso, muitos brasileiros têm o hábito de descontar no álcool suas mágoas e angústias, a cultura popular do ‘vou beber para esquecer meus problemas’, o que acaba dificultando ainda mais a situação”, explica.
Amaranto ressalta ainda que a diminuição na oferta de substâncias ilícitas contribuiu para que usuários de entorpecentes buscassem alternativas naquilo que poderiam adquirir legalmente.
“Durante todo o período de pandemia, tivemos em Alagoas muitas drogas apreendidas pelas forças da Segurança Pública, o que é um ponto superpositivo. Entretanto, como os usuários perderam o acesso aos entorpecentes, o que estava mais próximo a eles eram os supermercados e as lojas, onde eles tinham acesso de forma lícita a bebidas alcoólicas”, completa.
E esse padrão de comportamento foi comprovado no último levantamento realizado pela Rede Acolhe em 2021. O programa de tratamento para dependentes químicos do Governo de Alagoas registrou no ano passado 3.892 acolhimentos motivados pelo uso abusivo de álcool, um aumento de 30% em relação ao ano de 2020, que somou 2.746 acolhimentos.
Para Júnior Amaranto, o dado acende um alerta e reforça a necessidade do cuidado com a saúde mental. “As questões relacionadas à saúde mental e emocional não são algo menor ou menos importante, elas merecem a nossa atenção e nosso cuidado todos os dias. Por isso não podemos ter medo de pedir ajuda”, alertou o psicólogo.
Se você busca acolhimento para si ou para uma pessoa conhecida em uma das 35 comunidades terapêuticas credenciadas ao Governo de Alagoas, o atendimento pode ser feito em um dos três Centros de Acolhimento, que ficam em Maceió, Arapiraca e Santana do Ipanema, ou agendando uma visita das equipes técnicas pelo número 0800.280.9390. O acolhimento é gratuito e está disponível para pessoas de todo o estado.